RECIFE- Antônio José Ferreira, de 35 anos, estuda para ser jornalista e já foi notícia no Diário de Pernambuco, no dia 22 de setembro de 2007. Aqui, ele publicou a primeira matéria da sonhada carreira. Era a própria história de vida, escrita em papel e caracteres de tinta no jornal. Mas precisou de um computador e mais quatro mãos para fazê-lo (da colega de sala e do repórter). Antônio ficou cego aos seis anos de idade. Até hoje, dependia de alguém e de um micro, para ser cidadão. Para contar aos outros o que ele sente. Para sentir o que os outros contam. Da rua onde ele mora, do time de futebol, do aumento do plano de saúde, das medidas do Congresso Nacional, do efeito estufa no mundo. Dependia até hoje. Nesta quarta-feira, 16 de abril de 2008, o Diário de Pernambuco - depois de 182 anos de história - passa a ser impresso, também, em braile. O projeto, que vai circular diariamente, é inédito no Brasil. Antônio e outros cidadãos com a mesma necessidade especial vão receber o jornal gratuitamente.
“Pode parecer normal para a maioria das pessoas ter acesso a uma coisa que todo mundo já tem, que é a informação. Mas ter o Diário em Braille é um fato histórico de inclusão social”, declara Antônio.
O estudante estará presente ao lançamento do Diário de Pernambuco impresso em braile, que acontece hoje, durante a 2ª Conferência Municipal de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência do Recife, evento que dura até a próxima sexta-feira, no Centro de Convenções, em Olinda. Os exemplares especiais serão distribuídos em entidades e organizações de pessoas com deficiência visual de todo o estado. Cada edição terá 50 páginas. Na ponta dos dedos, os leitores ganharão acesso às principais notícias do Diário na versão impressa. “Um jornal em braile, com circulação diária, não existe no Brasil. É um projeto ousado, que tem um alcance inestimável. É um investimento na democratização da informação e na cidadania. Muitas vezes pensamos nas pessoas com necessidades especiais, mas não somos capazes de realizar nada pela inclusão social delas, pelo acesso à vida mesmo”, justifica o diretor de Projetos Especiais do Associados Pernambuco, Marcondes Brito.
“As pessoas com deficiência são parte da realidade e ajudam a construí-la. Não é possível conceber que, na era da democratização da informação, muitas delas ainda estejam excluídas do processo de produção da informação”, comenta a secretária de Direitos Humanos e Segurança da Cidadania do Recife, Karla Menezes. “Fazer o Diário em Braille é uma forma de reconhecer os direitos, a articulação e luta dessas pessoas pelos seus direitos”. De acordo com o senso do IBGE, cerca de 240 mil pessoas no Recife (16% da população) têm algum tipo de necessidade especial. Dessas, aproximadamente 120 mil possuem algum tipo de deficiência visual.
Reportagem: ANA BRAGA DO DIARIO DE PERNAMBUCO
Fonte: O Imparcial OnLine
Nota: Antônio José do Nascimento Ferreira, que é adventista desde a adolescência, já foi Vice-Campeão do Nordeste de FutSal para Cegos defendendo a Seleção Pernambucana, duas vezes Presidente da Associação Pernambucana de Cegos - APEC; atualmente é Diretor de Finanças da APEC, e Gerente de Políticas Públicas para a Pessoa com Deficiência da Prefeitura do Recife; na Igreja Adventista do Sétimo Dia em Torrões (Recife-PE), atua como ancião, Diretor-Associado da ADRA e Comunicação.
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